“É revoltante que uma mulher, jornalista, negra não esteja segura dentro dos estádios”, escreve estudante de jornalismo que teve seu trabalho cerceado no Mineirão

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A estudante de jornalismo, Mel Oliveira, durante cobertura da final do Campeonato Mineiro de Futebol Feminino, no Mineirão, antes de ser impedida por um torcedor de fazer um vídeo

Ser mulher e ter o objetivo de atuar no mundo esportivo é um desafio que vem de anos. Em um meio majoritariamente masculino, a nossa postura precisa ser forte em busca de conquistar um espaço que também é nosso. Me chamo Melissa Cristina de Araújo Oliveira, estudante do sétimo período de jornalismo na faculdade Promove em Belo Horizonte, estagiária da Tv Promove e uma das integrantes do coletivo “Realeza Verde”. Nosso grupo possui um perfil no Instagram e um programa no canal universitário, onde realizamos a cobertura sobre o futebol masculino e feminino dos times mineiros, além de falar sobre outros times do Brasil e do mundo. A equipe possui, atualmente, cinco integrantes que já participaram de jogos e transmissões ao vivo.

No último dia 21 de novembro, estive no Mineirão junto do meu colega Jonatas Cesar Netto para fazer a cobertura da Final do Campeonato Mineiro Feminino 2021 entre os times; Cruzeiro e Atlético, mais conhecidas como: As Cabulosas e Galo Feminino. Fizemos todo o cadastro como imprensa, para estar presente no Mineirão e realizar a cobertura.

Durante os instantes finais da partida, fomos até as arquibancadas para entrevistar os torcedores do Atlético e do Cruzeiro. No momento, o Galo Feminino se consagrava campeão da competição. Durante a transmissão ao vivo para a página do Instagram @realezaverde, um torcedor do Cruzeiro veio em minha direção e colocou as mãos no meu celular tentando impedir que eu continuasse a fazer a filmagem. Meu equipamento caiu no chão e ele foi em direção a torcida do Atlético, onde começou a provocar as pessoas ali presentes. Vale lembrar que a torcida do Atlético não poderia ter entrado no estádio do Mineirão naquele dia, pois o mando de campo era do Cruzeiro.

Depois da sua ação contra mim, fui em sua direção para questionar a sua atitude de desrespeito. Sendo imprensa ou torcedora, ele não tinha o direito de impedir o meu trabalho. O homem tentou se esconder, mas em seguida, mostrou seu rosto demonstrando a postura de completo desdém, falta de responsabilidade com seus atos e a aparente certeza da impunidade.

Chamei pela segurança do estádio e pela polícia, mas não tinha ninguém por perto. Depois ele foi embora como se nada tivesse acontecido. Meu colega de equipe, me aconselhou a sair de perto e continuar a cobertura da final e da entrega de prêmios.

Diante da situação e dos vídeos gravados, marquei todos os responsáveis por aquele dia nas redes sociais: Cruzeiro, Atlético, As Cabulosas, Galo Feminino e o Mineirão em todos os vídeos que fiz, mesmo assim não tive retorno.

É revoltante que uma mulher, jornalista, negra não esteja segura dentro dos estádios, diante homens machistas que tem certeza da impunidade e que acham que podem fazer o que quiserem para nos impedir do direito de estarmos no lugar que quisermos, sendo para fazer a cobertura jornalística ou para torcer pelo nosso time.

Nos últimos dias, cresceu o número de denúncias de mulheres que têm sofrido abuso e importunação sexual dentro do estádio do Mineirão. As perguntas que ficam são: até quando isso vai acontecer? Até quando a segurança do Mineirão vai permitir que as mulheres passem por situações de constrangimento? Até quando vamos permanecer inertes assistindo mulheres serem tratadas sem nenhum respeito?

Melissa Oliveira
Estudante de Jornalismo, 7° período, estagiária da tv promove e apresentadora do Realeza Verde

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