Peninha: o jornalismo dedicado aos direitos humanos e à democracia

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O jornalista Luiz Carlos de Assis Bernardes, o Peninha, homenageado nesta quinta-feira 13/8/15  com o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, tem quase quatro décadas dedicadas ao jornalismo e à democracia. Sua atuação começou ainda durante a ditadura, quando integrou a Comissão de Direitos Humanos da Arquidiocese de Belo Horizonte e a Comissão de Direitos Humanos da OAB-MG. Um dos trabalhos mais relevantes da sua carreira foi a investigação que revelou que o motorista Geraldo Ribeiro tinha o crânio perfurado por um objeto metálico, quando foi enterrado, após o acidente rodoviário que levou à morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek.

“O objeto era uma bala usada pelas Forças Armadas, fabricada no Brasil. O motorista teria sido atingido no crânio, perdeu o controle do Opala e chocou-se com o Fenemê”, conta Peninha, refazendo uma possível explicação para a misteriosa morte do ex-presidente JK, em agosto de 1976. A América Latina vivia então sob ditaduras e a Operação Condor ignorava fronteiras nacionais para eliminar as oposições aos governos militares. Em 2013, a Comissão da Verdade de São Paulo confirmou a versão de assassinato do ex-presidente.

O relato das investigações, documentadas com fotos, está no livro “JK: onde está a verdade?”, da Editora Vozes, escrito por Peninha pelo também jornalista Orlando Leite. Feito a pedido Serafim Jardim, amigo de JK, e da filha do ex-presidente, Márcia Kubitschek, o trabalho jornalístico levou à exumação do cadáver do motorista de JK, que morreu com ele no acidente. Peritos descobriram não só a perfuração no crânio, como também encontraram o fragmento metálico.

Ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas (1987-1990) e da Federação Nacional dos Jornalistas, ex-diretor da Federação Latino-Americana de Jornalistas e da Organização Internacional de Jornalistas, Peninha esteve em 36 países e produziu reportagens importantes para a defesa dos direitos humanos, como a que mostrou a vida das crianças palestinas na Faixa de Gaza. “A sala de aula funcionava numa caverna, para proteger os alunos dos helicópteros de Israel”, lembra Peninha, revelando estar, décadas depois, ainda impressionado com os crânios de crianças mortas e com as crianças feridas num hospital palestino.

Bombas e intimidação

Outras entrevistas internacionais, como as que Peninha fez com as mães da Praça de Maio, na Argentina, com os guerrilheiros sandinistas, na Nicarágua, e com Fidel Castro, em Cuba, não são menos expressivas, porém, do que reportagens que fez no Brasil. Nos anos 80, a revista Istoé publicou matéria de Peninha e do fotógrafo Cláudio Versiani sobre trabalho escravo numa fazenda no Sul de Minas. A denúncia levou a fechamento e multa da fazenda pelo governo estadual.

Durante a ditadura, Peninha correu riscos por defender os direitos humanos. Mais de uma vez estava presente em reuniões quando estouraram bombas lançadas por organizações de direita. Formado em direito e em jornalismo, ele atuou como testemunha de defesa da militante dos direitos humanos Helena Greco, quando ela foi processada pelo governo militar. Curiosamente, ele tornou-se também testemunha de defesa da sua filha, Heloísa Greco, quando foi acusada, recentemente, de pichar a estátua de um militar.

Também recentemente, outra matéria de Peninha teve grande repercussão, quando ele entrevistou o lobista Nilton Monteiro, que divulgou em primeira mão a famosa “Lista de Furnas”. A matéria, que deveria ao ar no Jornal da Band, só foi veiculada mais tarde, no Jornal da Noite. “A irmã do governador Aécio Neves, Andrea Neves, ligou para a Band reclamando, antes mesmo da matéria ir ao ar”, conta Peninha, que supõe que tanto seu telefone como os telefones da emissora estavam grampeados.

Por interferência política, Peninha deixou a Band depois de 21 anos de trabalho. “O governo do estado é um grande anunciante e queriam que eu fizesse matérias elogiosas sobre o choque de gestão, o déficit zero e a Cidade Administrativa, mas eu mostrava que não havia o que elogiar nesses projetos”, informa o jornalista. “Fui tirado do ar na TV e na rádio, a Band News, cujo jornalismo ajudei a fundar. Propuseram que eu continuasse como assessor, mas não aceitei e saí”, conclui o veterano jornalista, que continua trabalhando na OAB e atuando na TV Comunitária.

XVIII Encontro Nacional de Direitos Humanos

O XVlll Encontro do MNDH continua até domingo 16/8 em Belo Horizonte. A programação completa pode ser lida aqui. Informações com Gildazio Santos – 9718-9146 (vivo) – e Ana Lúcia – 86828222 (vivo) – midiadh@yahoo.com.br.

(Foto: Peninha durante o 13º Congresso Estadual de Jornalistas de Minas Gerais. Crédito da foto: Rodrigo Dias.)

 

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