O esporte mineiro está cada vez mais abandonado

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foto do Mineirinho, estádio de esportes na Pampulha - Foto: Wikipedia
foto do Mineirinho, estádio de esportes na Pampulha - Foto: Wikipedia

Ivan Drumond

O esporte mineiro passa por um dos momentos mais difíceis de sua história. O abandono pelo poder público é a razão disso. Numa conversa com presidentes de federações esportivas do estado, reclamações a dar com pau.

O esporte de rendimento não tem mais o apoio que tinha. Esse é um dos motivos de não termos em Belo Horizonte, mais precisamente no Mineirinho, o maior ginásio da América Latina, decisões como as do vôlei.

Para se ter uma ideia, desde 2017 que as equipes mineiras dominam a Superliga Brasileira de Vôlei, mas aquele foi o último ano em que o equipamento da Pampulha sediou uma decisão. No torneio feminino, são quatro finais consecutivas entre Minas e Praia, de Uberlândia. O time da capital venceu as temporadas 2017/18. No ano seguinte, não houve disputa, devido à pandemia de COVID-19. Voltaram a se enfrentar nas três temporadas seguintes.

O Minas conquistou os títulos de 2020/21 e de 2021/2022. Nesta última edição, o título ficou com o Praia. Mas em nenhuma das decisões aconteceram no Mineirinho, que é o sonho de todo atleta: fazer uma final em um ginásio daquela magnitude.

No torneio masculino, o Cruzeiro sagrou-se campeão ao vencer o Sesi-SP, no Mineirinho, em 2018. Foi a última vez que o Mineirinho foi usado para o esporte.

Desde então, o maior ginásio da América Latina foi deixado de lado. O Minas fez a final de 2020/21, mas em função da COVID-19, foi criada uma bolha em Saquarema (RJ). Lá eram jogos sem torcida. O Minas foi vice-campeão, perdendo para o Taubaté.

A partir daí, nas duas últimas temporadas, a final foi mineira. A decisão dos sonhos de todo torcedor daqui, entre Cruzeiro e Minas.Duas equipes de Belo Horizonte, onde estão suas casas, suas torcidas. Mas tiveram de decidir longe, muito longe, tudo, porque o Mineirinho foi abandonado. Deixado ao “Deus dará”.

Em 2020/21, a decisão aconteceu em Uberlândia. Vão dizer que pelo menos era em Minas Gerais. Mas os jogos deveriam ser no Mineirinho.

E em 2022/23, a decisão foi, pasmem, em São José dos Campos (SP). O Cruzeiro ganhou ambas as decisões, mas tudo longe de sua torcida.

Pois a questão vai além. Numa conversa com dirigentes do vôlei, estes me contaram que o governo do estado abandonou a Lei de Incentivo ao Esporte, homologada em 2013, no que diz respeito ao esporte de competição.

Com isso, as empresas, que sempre apoiaram as grandes competições, estão saindo do barco, abandonando o esporte, principalmente o vôlei. As empresas patrocinavam os eventos, em troca do benefício da Lei de Incentivo, que permite um abatimento no imposto a ser pago.

Com isso, corremos o risco de não termos mais não só as competições nacionais, mas também torneios internacionais, que aqui aconteciam e que permitiam, por exemplo, brigar pela classificação para campeonatos mundiais.

Foram os casos de Cruzeiro e Minas, no masculino, e Minas e Praia, no feminino, que conquistaram vagas em mundiais de clubes fazendo as classificatórias em casa. Infelizmente, também, os torneios não aconteceram no Mineirinho.

Foram no Minas e em Betim, mas tiveram a possibilidade de atuar com o apoio de suas torcidas. O governo estadual apoia, apenas, o esporte escolar, o que não é e nunca foi errado, mas a única chance que estes teriam de conseguir patrocínio, o que hoje não acontece, seria estar atrelado às competições de rendimento.

A decisão do governo afastou os investidores. As poucas empresas que querem apoiar, hoje pensam em sair, pois não investirão sem ter um benefício. Foi pra isso que a Lei de Incentivo ao Esporte foi criada, para apoiar o desenvolvimento do esporte e, com isso, dar um benefício em troca. Minas Gerais está perdendo o SulAmericano de Vôlei, tanto no masculino quanto no feminino. Por conta dessa decisão.

Mas não é só o vôlei que sofre. Dois outros esportes correm o risco de parar em Minas Gerais por conta dessa decisão: o xadrez e o judô da Usipa, em Ipatinga.

E tal abandono fez com que a Liga das Nações de Vôlei, que teria pelo menos um grupo disputado em Belo Horizonte, fosse parar em Brasília, num ginásio que não chega aos pés do nosso.

Ou seja, o esporte, depois de perder o Mineirinho, pode perder ainda muito mais, pois estará, melhor, está, sem sustentação, sem apoio, o que é um grande absurdo.

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