Sindicato dos Jornalistas participa de lançamento nacional do livro “60 anos do golpe, gerações em luta”, que reúne textos de 60 autores envolvidos com reflexões
Onde estávamos em 1964 e onde estamos em 2024? As duas perguntas formam o eixo de reflexões do livro “60 anos do golpe, gerações em luta”, que será lançado no próximo dia 1º de abril, na sede do SJPMG, além de outras capitais brasileiras. A publicação reúne textos de 60 autores que sobreviveram à ditadura militar que governou o Brasil por 21 anos, deixando um legado doloroso de mais de 600 mortos e desaparecidos.
Francisco Celso Calmon, advogado, ativista e ex-preso político idealizou o projeto em outubro de 2023 e rapidamente ganhou apoio de diversas organizações como o Canal Pororoca e grupos como Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça e Geração 68 Sempre na Luta. O livro não apenas reflete sobre o golpe contra a democracia ocorrido há seis décadas, mas também questiona o estado atual da democracia no Brasil.
Trata-se de um projeto de memória e de História com importância que ultrapassará nossas gerações. Com 334 páginas, o livro tem uma pluralidade de autores, desde ex-combatentes do golpe e da ditadura, ex-coordenadores da Comissão Nacional da Verdade, acadêmicos, professores, cientistas sociais, escritores, poetas, representantes da periferia social, jornalistas, juristas, sindicalistas, mulheres, negros, brancos, em nível nacional.
Memória e conjuntura
O golpe gerou uma ditadura de profundas consequências na cultura política do país. Em 1988 começa a reconstrução institucional da democracia. Em 1º de abril de 2024, o golpe fará 60 anos. Aos autores desse livro coube reconstruir os momentos significativos dessa
trajetória a partir de suas experiências.
Os textos são apresentados em vários gêneros literários, como prosa, poesia, poema, mosaico, entre outros. Pelo simbolismo, a meta foi o livro ser composto por 60 autores, tendo lançamentos programados para o dia 1º de abril, nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Sergipe, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Além de uma contribuição à História, a obra irá levar memória e análise da conjuntura e proposições de luta para a construção e defesa da democracia de todas e todos. A obra é analítica, com memória pessoal e/ou histórica (onde estávamos em 1964), e análise da conjuntura, prognóstico (perspectivas e expectativas) e mesmo de proposições, do onde estamos em 2024.
Posteriormente aos lançamentos, o livro seguirá como matéria prima para debate e formação política, nas universidades, escolas, sindicatos, associações, enfim, em qualquer parte, na cidade e no campo, onde puder ser acolhido. Simultaneamente, o livro será lançado na mesma data no Rio de Janeiro, São Paulo, Vitória, Curitiba e no Rio Grande do Sul. O lançamento em Goiânia tem o apoio do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás.
Em seu texto, o ambientalista Apolo Heringer Lisboa faz uma análise do passado e traça uma perspectiva para o futuro. Para ele, no pós-64, por uma insuficiente formação teórica e da história do Brasil e um marxismo leninismo copiado e de tendência a seguir modelos externos de forma dogmática, cometeu-se o erro de opor ao militarismo de direita implantado em 1964, uma forma de luta com conteúdo militarista de esquerda que copiava erradamente o que houve em Cuba e o que acontecia na China e no Vietnam. “Imitação e cópia nunca dão certo”, afirmou Apolo.
Para o futuro, Apolo aposta no socialismo democrático. “Talvez no futuro próximo o socialismo democrático traga a paz ao mundo e o respeito nas relações internacionais, com prevalência dos valores do trabalho sobre o capital e a superação noutra dimensão civilizatória da contradição Capital Trabalho”.
Também presente no livro, o promotor de justiça Edson Ribeiro Baeta considera que o Brasil vive um “golpismo estrutural” que mostrou suas garras no último dia 8 de janeiro de 2023. Para dominá-lo, ele considera imprescindível o estabelecimento de mecanismos de controle do principal instrumento utilizado por seus defensores: as redes sociais.
“A utilização responsável das mídias sociais, a sua agilidade e o seu alcance embalam grande potencial para abreviar o retorno ao patamar civilizado e sadio do debate político, tendente a ressoar em nossas representações e produções parlamentares. Além de manter o monstro neofascista trancafiado em sua jaula, será possível, enfim, como prêmio, dar cabo ao golpismo estrutural entranhado nas corporações da República”, afirmou Edson Ribeiro Baeta.