Presidente da EBC volta a atacar trabalhadores/as da empresa

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fachada da empresa brasileira de comunicação - agência brasil - foto: EBC
Fachada da sede da EBC em Brasília.

Os Sindicatos dos Jornalistas do DF, RIO e SP e a Federação Nacional dos Jornalistas repudiam novo ataque vil e covarde contra os empregados e as empregadas da EBC

O presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Hélio Doyle, voltou a atacar os trabalhadores concursados da empresa, em entrevista ao jornalista Guilherme Amado, publicada neste domingo (6). Assim como em um debate acadêmico promovido pela Universidade de Brasília (UnB), em maio, quando disse que concursado não serve para uma empresa de comunicação, Doyle afirmou a Amado que a “mentalidade de servidor público” cria uma “situação perigosa” porque “muita gente” já pensa que não é viável fazer comunicação em empresa pública.

O presidente da EBC pintou uma imagem extremamente negativa dos empregados públicos concursados da empresa, dizendo que os funcionários se negam a passar do horário da jornada de trabalho, o que é uma clara inverdade. Quem escuta a entrevista pensa que o principal problema da empresa são os concursados. Doyle acrescentou que os “empregados têm muitos direitos”, vendendo também a tese, muito comum à extrema-direita, de que servidores e empregados públicos são privilegiados, tentando jogar a opinião pública contra os empregados da EBC.

Os Sindicatos dos Jornalistas do DF, RIO e SP e a Federação Nacional dos Jornalistas repudiam veementemente mais esse ataque vil e covarde contra os empregados e as empregadas da EBC. Ir à imprensa comercial atacar o conjunto dos trabalhadores é inaceitável e revela, novamente, o pensamento da gestão sobre os trabalhadores e sobre o concurso público enquanto via de entrada de profissionais na EBC.

Diante dos estudos que a empresa está fazendo para terceirizar o trabalho fim e do pouco interesse demonstrado em fazer andar o processo para um concurso público, torna-se impossível não concluir que a atual gestão prepara o terreno para uma ampla terceirização do trabalho fim da empresa, bandeira em que aliança que elegeu Lula presidente é radicalmente contrária.

As entidades alertam que a privatização do trabalho na EBC, além de contradizer a política do governo federal de valorizar o serviço público, é uma medida danosa tanto aos trabalhadores concursados, quanto ao cumprimento da missão constitucional e legal da empresa. Isso porque a terceirização vai criar diferentes “tipos” de trabalhadores dentro da EBC, alguns com contratos precários e expostos a maior exploração, com todos os efeitos colaterais que uma situação dessa pode trazer, como a discriminação de trabalhadores de acordo com o tipo de contrato com a empresa. Repetimos, esse tipo de terceirização não encontra apoio na posição da aliança social e política que elegeu o presidente Lula.

A privatização do trabalho também ameaça a missão da empresa, uma vez que terceirizados não têm condições de reagir a abusos dos gestores como os que vivemos nos últimos anos com censuras, perseguições e o desvio da finalidade da empresa para atender aos interesses políticos e eleitorais do ex-presidente da República Jair Bolsonaro. Se este for o caminho a ser adotado, é importante saber que ele sofrerá forte reação por parte das entidades. Foram os trabalhadores concursados da EBC, com sua posição estável, que lutaram contra a privatização da EBC e denunciaram, ano após ano, em dossiês as censuras e governismos na comunicação pública”. Foram os trabalhadores que, após longos 6 anos de desmonte e perseguições, foram reconhecidos por suas lutas, sendo laureados pelo prêmio especial Vladimir Herzog de contribuição ao jornalismo.

A mentalidade neoliberal do atual diretor-presidente da EBC, apesar de ter feito boa parte da carreira ocupando cargos públicos por indicação política, faz com que Doyle queira trazer para EBC o padrão de alta exploração da força de trabalho que prevalece nas empresas privadas. Afetadas pela alta rotatividade e baixos salários, o trabalhador do setor privado é o tipo ideal para gestores com a mentalidade do Doyle, pois acabam se submetendo a abusos e violações dos seus direitos, a exemplo do desrespeito à jornada de trabalho, muitas vezes fazendo hora-extra sem receber nada por isso.

Vale dizer ainda que não é verdade que os trabalhadores da EBC se negam a fazer seu trabalho. Quem trabalha na empresa sabe que, via de regra, a ordem da gestão é evitar as horas-extras para não precisar pagar por elas, sendo solicitadas apenas em casos extremos. Apesar disso, os trabalhadores da EBC já fazem muitas horas adicionais, que dificilmente são pagas pela empresa, por já existir um sistema de compensação de horas por folga, apesar da informação falsa relatada por Doyle.

O que o diretor-presidente quer é que os trabalhadores trabalhem mais que a jornada apenas por “vocação”, o que não ocorre nem em empresas privadas, e ainda pagando o preço pelo desmonte da EBC e pela falta de mão de obra que atinge a maioria dos setores da empresa. A carga horária dos jornalistas da EBC é a mesma que vale para toda a categoria, dentro de empresas públicas ou privadas. As mesmas definidas pela CLT em 1943, há 80 anos! O mínimo que esperamos é que uma empresa pública, diferente das privadas, cumpra minimamente a Lei!

Os salários da EBC estão entre os mais baixos no serviço público e são similares ao que se paga nas maiores empresas privadas de comunicação. Além disso, a competência e qualidade dos quadros concursados da EBC a levaram a ganhar dezenas de prêmios de jornalismo na última década, especialmente quando a comunicação pública foi valorizada, com a veiculação de conteúdos de efetivo interesse público.

O que a atual gestão precisa fazer é convocar novos concursos públicos para reforçar a força de trabalho da EBC, pilar para a reconstrução da empresa pública. Seu discurso mostra o porquê da EBC não ter aberto concurso público até hoje. É lamentável que a atual gestão, em vez de criar mecanismos para valorização dos/as trabalhadores/as que fazem essa empresa, vá a mídia privada atacar o corpo funcional da empresa. Aliás, seria mais útil que o atual diretor-presidente da EBC concedesse menos entrevistas e apresentasse mais resultados.

Os sindicatos e a Fenaj vão exigir do jornalista Guilherme Amado o direito de resposta contra o ataque aos trabalhadores desferido pelo atual diretor-presidente da EBC, que lamentavelmente parecem ter contado com a anuência do profissional, além de requerer ainda hoje audiência com a Secom e o Ministério de Gestão e Inovação sobre os sistemáticos ataques proferidos pelo diretor presidente às entidades sindicais representantes dos jornalistas e contra os trabalhadores do quadro.

Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do RJ
Sindicato dos Jornalistas Profissionais de SP
Federação Nacional dos Jornalistas

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