Em debate, na Casa de Jornalista, a “Barbárie Ambiental”

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O engenheiro florestal José Carlos Carvalho é um observador atento da política ambiental brasileira. Nos anos de 1990, ele esteve à frente, em Minas, do projeto de criação da secretaria de estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad); mais adiante, foi ministro de Meio Ambiente do governo Fernando Henrique Cardoso; na sequência, novamente secretário de Meio Ambiente de Minas. José Carlos Carvalho é uma testemunha privilegiada do que foi, ao longo dos últimos 50 anos, a implementação da política ambiental brasileira e de toda a legislação que lhe dá sustentação.

O que José Carlos Carvalho não esperava era que, a partir de meados dos anos de 2010 e, com mais ênfase, no governo de Jair Bolsonaro, ele fosse testemunhar a desconstrução dessa mesma política que ele havia ajudado a construir. “Confesso que vivi momentos muito atordoados vendo o que estava acontecendo, sobretudo porque, quando você vê que medidas da sociedade começaram a ser dinamitadas, dava uma dor no coração. Não porque eu defenda o status quo. Pelo contrário. Eu defendo que as políticas públicas devem ser permanentemente atualizadas. Só que esse pessoal, sob o pretexto de aperfeiçoar, usou todo o poder que tinha para destruir”, afirmou José Carlos Carvalho, que, nesta quinta, 27, participa, na Casa de Jornalista, do debate “Barbárie Ambiental”.

O debate faz parte da mostra “Pra não esquecer – o governo Bolsonaro em charges”, que está na Casa de Jornalista e traz 104 trabalhos de 37 artistas, todos retratando o governo Bolsonaro. Além de José Carlos Carvalho, participam do debate o cartunista Alves, que é também mestre em geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e a jornalista Juliana Minardi, ativista ambiental que integra o movimento que visa preservar a Mata do Jardim América, uma área verde de 21 mil metros quadrados localizada na região Oeste de Belo Horizonte e que pode ser derrubada para a construção de três edifícios.

Para José Carlos Carvalho, a principal ameaça ao patrimônio ambiental brasileiro vem de uma parte do agronegócio – aquela que está vinculada aos grileiros de terra e ao desmatamento e que está na raiz da destruição principalmente da Amazônia.

Em defesa do cerrado

Com sua arte, o cartunista Alves trabalhou em uma frente de mobilização que impediu a derrubada de cerca de dez mil hectares de cerrado em Bonito de Minas, no extremo norte do Estado, para a implantação do projeto agropecuário da empresa BrasilAgro. Após forte pressão de cerca de 50 entidades ambientalistas, de Minas e de outros estados, a empresa anunciou, em setembro do ano passado, que estava desistindo do empreendimento.

A mobilização foi liderada pela Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) e se deu em duas frentes: um foi utilizando em suas redes sociais uma série de  cartuns produzidos por Alves e publicados semanalmente. A campanha alcançou quase 200 mil pessoas. Outra frente da campanha foi a de denunciar a empresa – que é uma sociedade anônima com ações na bolsa de valores – à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e à B3, que é a Bolsa de Valores de São Paulo, onde suas ações são negociadas.

Alves afirma ter ficado “extremamente feliz” com o resultado porque possibilitou  a preservação de uma área muito extensa de vegetação natural de cerrado onde mora um grande contingente de populações tradicionais do norte de Minas que, com isso, poderão manter seus modos de vida. Ele define como “importante e necessário” a mobilização realizada pela Amda, entidade da qual afirma ter muita honra em ser colaborador.

Alves nasceu em Itabira, mas foi criado em Lagoa Santa, onde aprendeu a se encantar com as belezas e riquezas naturais da região. Foi quando começou a perceber que essas belezas estavam, aos poucos, desaparecendo por conta da expansão imobiliária. Na universidade, enxergou a possibilidade de unir a temática ambiental ao seu trabalho como artista, já que, segundo ele, pouco se falava à época sobre o desastre ambiental que estava em curso no cerrado. Hoje, Alves se considera um artista a serviço da causa ambiental. “Minha principal motivação é a de poder contribuir com minha arte para os esforços de preservação ambiental na minha cidade, meu estado e no meu país. Isso sim me dá gás para a luta”, afirmou Alves.

Para ele, trabalhar com a temática ambiental no governo Bolsonaro foi um enorme desafio.  “Eu tinha que trabalhar com notícias de descalabros pelo Brasil afora que iam desde garimpo ilegal à morte de lideranças ambientalistas cotidianamente”, afirmou Alves. Segundo ele, a diferença para os outros governos é que, além do desmonte da fiscalização, no governo Bolsonaro não se via a mínima preocupação em tentar resolver estes problemas e sim em aprofundá-los.

Mata do Jardim América

Encravada na região oeste de Belo Horizonte com seus 21 mil metros quadrados, a Mata do Jardim América está sob fogo cerrado de empresas da construção civil e de ambientalistas do Instituto Árvore e do movimento SOS Mata do Jardim América. O objetivo dos ambientalistas é que a área verde siga preservada e transformada em um parque de amplo acesso à população da região. À frente do movimento, a jornalista, educadora e ativista ambiental Juliana Minardi afirma que foi surpreendida com a concessão, pela prefeitura de Belo Horizonte, da Licença de Instalação (LI) do empreendimento.

Com a LI, a empresa poderá fazer o corte das 465 árvores autorizadas a serem suprimidas para o início da construção do empreendimento, que prevê três torres. Além das 465 árvores, ela afirma que o empreendimento pode matar as centenas de animais que têm aquela área como refúgio. Como parte da mobilização em defesa da Mata do Jardim América, no próximo dia 17, às 19h, no auditório do Sebrae, na avenida Silva Lobo, será realizada uma audiência pública para a discussão do empreendimento.

Para o debate desta quinta, na Casa de Jornalista, além da defesa da Mata do Jardim América, Juliana Minardi irá levar uma mensagem de caráter mais geral, que enfatiza a necessidade de as pessoas se conscientizaram de que o planeta vive  a iminência de uma emergência climática cujos sinais já estão visíveis, como a recente crise hídrica e as chuvas em excesso. “Minha fala vai ser muito no sentido de chamar a população a colocar a agenda ambiental na pauta do nosso dia a dia, para que todos possam discutir e participar das decisões”, afirma Juliana Minardi.


Debate Barbárie Ambiental

Mostra “Pra não esquecer –os anos Bolsonaro em charges”

Dia 27, quinta-feira, às 19 horas

Local: Casa de Jornalista, Avenida Álvares Cabral 400, Centro, Belo Horizonte

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