Análise da imprensa durante a pandemia encerra Curso Livre de Jornalismo 2020

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Faz falta na imprensa brasileira a figura do editor científico, avalia o médico infectologista Unaí Tupinambás (foto). Uma das principais fontes dos jornalistas mineiros na pandemia, Unaí considera que o editor científico poderia ajudar a redação a avaliar corretamente as informações e escapar de armadilhas. Na ausência do editor científico, são as fontes científicas que acabam fazendo esse papel e auxiliando a edição das notícias, disse o médico, ao participar da quarta e última aula do Curso Livre de Jornalismo, na segunda-feira 28/9.

O curso foi um sucesso, com mais de 410 inscritos, mais de 150 profissionais e mais de 250 estudantes, de 90 escolas de jornalismo de Minas Gerais e outros estados. Iniciativa do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, o curso contribuiu para o aperfeiçoamento profissionais dos participantes.

“Os jornalistas são cada vez mais importantes para a sociedade”, disse a presidenta do SJPMG, Alessandra Mello, ao encerrar a aula. Ela enfatizou a importância dos jornalistas se sindicalizarem e fortalecerem sua entidade, que depende exclusivamente da contribuição dos seus associados para sobreviver.

Unaí Tupinambás também aproveitou a proximidade das eleições municipais para ressaltar a importância da população votar em candidatos que durante a pandemia valorizaram o Sistema Único de Saúde (SUS), que vem sendo fundamental para salvar vidas de milhões de infectados pelo novo coronavírus. Unaí é um dos responsáveis pelo Boletim Epidemiológico de Minas Gerais, atualizado diariamente.

Além de infectologista, participaram da aula, como convidados, a enfermeira Myriam Marques e o jornalista Cristiano Martins. A condução foi do idealizador do curso, o jornalista e professor João Carlos Firpe Penna. O tema da aula foi “Reflexões sobre a cobertura jornalística na pandemia”.

Enfermeira em Nova York, de onde falou, ao vivo, Myriam Marques fez comparações entre o comportamento das autoridades sanitárias e da imprensa americanas e brasileiras. Ele disse que a mídia teve papel fundamental no combate à pandemia e que o governo federal americano, assim como o brasileiro, teve um péssimo manejo de dados. O prefeito e o governador de Nova York, porém, tiveram papel exemplar. “Houve uma guerra entre o governo estadual, progressista, e o governo federal”, disse.

Myriam enfatizou ainda o papel importante da imprensa alternativa americana, especialmente de veículos como The Nation e Democracy Now. Ela lembrou, ao contrário do Brasil, a imprensa americana é muito diversificada, com inúmeros canais públicos e publicações de esquerda tradicionais, centenários e influentes.

O jornalista Cristiano Martins, do jornal O Tempo, mostrou a importância do jornalismo de dados na cobertura da pandemia. Criador do saite Coronavirus-MG.com.br, Cristiano ressaltou que o trabalho independente dos jornalistas foi fundamental para a transparência de informações fornecidas pelas autoridades sanitárias.

Na primeira parte da aula, o jornalista e idealizador do curso João Carlos Firpe Penna analisou as principais notícias dos últimos dias. Ele comentou a manchete da Folha de S.Paulo sobre a participação do presidente brasileiro na sessão de abertura da assembleia da Organização das Nações Unidas: “Bolsonaro se defende na ONU sobre pandemia e queimadas”. Embora o texto abaixo dela mostrasse várias mentiras ditas pelo presidente, o título não expressou o conteúdo da notícia. A contradição foi denunciada pela própria ombudsman da Folha, Flávia Lima, no título da sua coluna: “A Folha amarelou”.

O Globo foi mais enfático na crítica ao presidente. Ao lado do título “Bolsonaro adota tom defensivo em discurso na ONU”, deu destaque para outra notícia demolidora para o governo: “Imagem ruim: Brasil vive fuga recorde de dólares e investidores estrangeiros. Desmatamento reduz atratividade do país, que já estava em queda”.

João Carlos comentou também a bomba publicada pelo The New York Times no domingo 27/9, que provavelmente influenciará o resultado da eleição americana, marcada para daqui a um mês. Reportagem que resultou de quatro anos de investigações mostrou como presidente Donald Trump enriqueceu sonegando impostos.

Enquanto isso, no Brasil, O Globo mostrava a preferência da família Bolsonaro por fazer negócios usando dinheiro vivo. Reportagem da Folha também mostrou que as campanhas eleitorais dos Bolsonaros foram financiadas com dinheiro vivo.

O Curso Livre de Jornalismo é uma realização do SJPMG, com coordenação do jornalista João Carlos Firpe Penna, que tem 29 anos de experiência como professor de Jornalismo da PUC Minas. Ele foi ministrado gratuitamente e dará certificado aos participantes que tiveram 50% de presença ou mais.

Os vídeos das quatro aulas estão disponíveis na página do SJPMG no YouTube.

Clique AQUI para assistir à quarta aula.

[29/9/20]

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