Diretor do Charlie Hebdo discutirá liberdade de expressão no Congresso da Abraji

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Ao ver a porta da Redação se abrir, jogou-se no chão. Com o ombro ferido por um tiro de AK-47 e corpos de colegas ao seu redor, prendeu a respiração para se fingir de morto. Foi assim que o novo diretor do Charlie Hebdo, Laurent Sourisseau, conhecido como Riss, sobreviveu ao atentado à sede do jornal francês em janeiro deste ano. O crime motivado pela publicação de charges de Maomé resultou na morte de 12 pessoas, incluindo alguns dos principais desenhistas da França e o antigo diretor do Charlie, Charb. Em tratamento para recuperar os movimentos do braço e sob proteção policial 24 horas por dia, o cartunista francês virá ao Brasil para participar do Congresso da Abraji.

No evento, Riss analisará as consequências do atentado à liberdade de expressão. Com mais de 20 anos de Charlie Hebdo, o cartunista discutirá o direito de imprensa na França, o humor à la française e contará a história do jornal satírico, marcada por ações judiciais movidas por associações católicas e muçulmanas e dois atentados. O diretor da publicação falará ainda dos desafios de dirigir uma Redação reduzida e traumatizada. A palestra terá a mediação de Frank la Rue, antigo relator especial da ONU sobre liberdade de expressão, e acontecerá no sábado, 4 de julho, das 11h às 12h30.

 

Atentado à liberdade de expressão

Em 7 de janeiro de 2015, dois homens encapuzados e armados com fuzis AK-47 invadiram a reunião de pauta do Charlie Hebdo, em Paris, deixando um saldo de 12 mortos e 11 feridos. Os autores do ataque terrorista foram identificados posteriormente como sendo os irmãos Chérif et Saïd Kouachi, que teriam recebido treinamento militar em base da Al Qaeda no Iêmen. Entre as vítimas fatais do Charlie Hebdo, estavam cinco ícones do desenho francês: Wolinski, Cabu, Honoré, Tignous e Charb, o então diretor da publicação. A onda de terror faria ainda mais vítimas nos dois dias que se seguiram. Uma policial e quatro judeus mantidos reféns em um supermercado Kosher foram assassinados por Amedy Coulibaly, jihadista que disse em vídeo ser filiado ao Estado Islâmico e aliado aos irmãos Kouachi. Os três militantes islâmicos foram mortos pela polícia francesa em 9 de janeiro.

Os atentados terroristas geraram forte comoção na França, onde mais de 4 milhões de pessoas, reunidas sob o slogan Je Suis Charlie (Eu sou Charlie), foram às ruas manifestar apoio às vítimas e à liberdade de expressão. Demonstrações de solidariedade ao jornal foram vistas em diversas cidades do mundo. Em Paris, a marcha republicana, como ficou conhecida a passeata do domingo 11 de janeiro, contou com a participação de 47 chefes de Estado e ao menos 1,2 milhões de pessoas.

A Al Qaeda no Iêmen reivindicou a autoria do atentado ao Charlie Hebdo em 14 de janeiro, mesmo dia em que foi publicada a primeira edição do jornal após o ato terrorista. O “número dos sobreviventes”, como foi batizada a edição, reafirmou o compromisso do jornal com a liberdade de expressão. A capa assinada pelo desenhista Luz trouxe um desenho de Maomé chorando com um cartaz Je Suis Charlie e os dizeres Tout est pardonné (Tudo está perdoado). A edição foi vendida em 26 países e teve quase 8 milhões de exemplares impressos, um recorde de tiragem para a imprensa francesa. O recorde anterior era do jornal France-Soir, que atingiu 2,2 milhões de exemplares no dia seguinte à morte do general Charles de Gaulle, em 1970.

Antes do atentado deste ano, a tiragem média do Charlie Hebdo era 60 mil exemplares. O número de assinantes do jornal também cresceu expressivamente depois do ataque, saltando de 10 mil para 220 mil.

No final de janeiro, ao deixar o hospital, Riss assumiu o comando da publicação. O cartunista era diretor de Redação desde 2009 e co-dirigia o jornal com o cartunista Charb. Toda a equipe do Charlie Hebdo está recebendo tratamento psicológico para lidar com o trauma.

 

SERVIÇO

“Charlie Hebdo: como manter o humor após o massacre”
Dia 4 de julho, das 11h às 12h30
Com Riss e mediação de Frank La Rue

 

10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo

2 a 4 de julho de 2015
Universidade Anhembi Morumbi | Rua Casa do Ator, 275 | Vila Olímpia | São Paulo – SP – Brasil
Inscrições pelo congresso.abraji.org.br 

 

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