A extrema direita faz intensa comunicação sobre as armas, mas não diz a verdade

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foto: agencia senado
foto: agencia senado

Os crimes cometidos por CACs aumentaram 745% nos últimos quatro anos, justamente no período que Bolsonaro esteve no poder

Por Paulo Loiola*

Recentemente, viralizou um vídeo meu em que eu cito dados que revelam o aumento da criminalidade no Brasil com a massificação das armas nas mãos dos chamados CAC’s – Caçadores, Atiradores e Colecionadores. Os números mostram que os crimes cometidos por CACs aumentaram 745% nos últimos quatro anos, justamente no período que Bolsonaro esteve no poder, contradizendo o argumento de que armar a população reduziria a criminalidade. 

Além disso, o valor de uma arma como a pistola calibre 9 mm varia entre R$8 mil e R$26 mil, demonstrando que um cidadão comum, trabalhador não tem condições de adquirir uma arma desse porte, fazendo com que apenas uma parcela da sociedade tenha acesso de verdade às armas de fogo. Essas armas foram as principais causas de feminicídio no Brasil no ano de 2023 e que registrou um aumento de 2,6% em comparação com o ano de 2022. Ao todo, no ano passado, 1.902 mulheres foram assassinadas no Brasil, contra 1.853 assassinatos em 2022, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Algumas pessoas disseram que o corte do vídeo foi favorável e posso até concordar em partes, até porque, o que eu disse no vídeo, é o que as pessoas estão dizendo há algum tempo, mas não sabiam como colocar. De fato, a estratégia do vídeo foi justamente apresentar dados, mas também foi intencional. O congelamento no rosto do deputado, a risada da mediadora, são elementos que fazem com que as pessoas se divirtam com um fato sério. Foi uma forma cômica de abordar uma situação que atinge milhões de pessoas no Brasil. Além disso, a esquerda é muito racional e acadêmica, eu sabia que, de alguma forma, esse corte pegaria o campo progressista. 

A questão central, tanto da discussão quanto do vídeo, é que a extrema direita se comunica muito bem e foi isso que fizeram quando alegaram que, armando a população civil, reduziria o número de crimes. No entanto, os números são fortes mostram outra realidade. O debate na Jovem Pan era um confronto ideológico e que só reforça a polarização política que vivenciamos nos últimos anos, mas uma coisa é certa: nenhum ator político grande da extrema direita saiu em defesa dos CAC’s após a divulgação dos dados. 

E deixando bem explícito, não é sobre proibir o direito de qualquer “cidadão de bem” possuir uma arma, mas questionar a narrativa dos conservadores bolsonaristas que sempre alegaram que ter mais armas nas mãos de civis melhora a segurança do cidadão. Falácia que é derrubada com dados. Em um outro vídeo que publiquei no meu X – antigo Twitter – cito alguns outros números que não foram publicados no vídeo que teve maior desempenho nas redes sociais e com fontes que não são vozes da minha cabeça. Esses dados reforçam que mais armas nas ruas só gera mais mortes violentas. 

Um exemplo é o caso do sargento da Marinha, Aurélio Alves Bezerra, que “confundiu” um vizinho – negro – com um bandido e o atingiu com três disparos. O caso aconteceu em fevereiro de 2022, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. Durval Teófilo chegava em casa, por volta das 21h, aguardava a esposa no portão e o militar atirou uma vez, quando Durval caiu, Aurélio saiu do carro e disparou mais duas vezes. 

Aurélio, teoricamente, é uma pessoa preparada para lidar com situações extremas, uma vez que é militar das Forças Armadas Brasileiras. A partir desse exemplo, imaginem a quantidade de pessoas despreparadas que possuem e portam armas atualmente. O problema apontado pelos especialistas é o armamento que aumenta a violência. São dados científicos, diferente do discurso da extrema direita que, apesar de contundente, não é verdadeiro. 

*Paulo Loiola é carioca, estrategista político, entusiasta de memes, uso de dados e tecnologia em campanhas, sócio-fundador da BaseLab e fundador do PerifaLab. Administrador, com experiência de 15 anos em planejamento estratégico, com passagem por prefeituras e empresas estatais, foi funcionário público por 12 anos, mestre em gestão pública pela FGV, MBE em responsabilidade social e terceiro setor pela UFRJ e MBA em Gestão energética. Loiola também é autor de dois livros de marketing político: “Construindo Campanhas o Caminho para a Eleição”, em parceria com a RAPS, e “Marketing Político”, para a Uninter. É professor de Marketing Político na Uninter, já escreveu para Carta Capital, Estadão, Folha, entre outros.

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