O jornalismo e o futebol perdem Miguel Santiago

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O jornalismo perdeu esta semana Miguel Santiago, que faleceu domingo e deixou duas marcas em sua trajetória. Uma foi como editor de polícia do extinto Diário da Tarde, o popular DT. A outra foi como cronista esportivo. Torcedor apaixonado pelo América, Miguel Santiago, que era conhecido como Miguel das Letras, manteve uma coluna sobre futebol no jornal e um blog na internet, onde escrevia principalmente sobre o América.

Foram 6.625 crônicas no DT e 1.175 no blog. Seu último texto foi publicado no dia 17 de setembro de 2019. Nele, Miguel comemorava a reação do América na disputa pela Série B do Campeonato Brasileiro daquele ano. “Haja fôlego”, escreveu Miguel Santiago.  Em nota, o América lamentou o falecimento de Miguel Santiago. “O clube presta condolências a todos os familiares e amigos. Que tenham força para este momento difícil”, publicou o América em seu site oficial. 

O jornalista Ivan Drummond conheceu muito bem os dois lados de Miguel Santiago. O Miguel profissional da notícia ele conheceu enquanto jornalista do DT. Ivan era diagramador e ele repórter de polícia. Ele conta que Miguel estava sempre pronto a ajudar e que, várias vezes, auxiliava os colegas indicando juízes com quem seria possível conversar para obter informações sobre o assunto em pauta. “Ele estava sempre pronto a ajudar”, afirma Ivan.

O Miguel jogador de futebol ele conheceu durante férias na praia, em Nova Almeida, no Espírito Santo. Ivan conta que sabia que Miguel gostava de futebol mas não sabia que jogava tão bem. Certo dia, ele se aproximou do grupo que se divertia com o futebol de praia e disse que queria jogar e que sua posição era de beque. “Ganhamos a primeira, a segunda. No dia seguinte, novamente. Aí, começaram a aparecer times para nos desafiar. E daí a alguns dias, mais e mais gente chegando para jogar e desafiar”, afirmou Ivan Drummond.

Ele conta que a paixão de Miguel pelo América era tanta que ele ia aos jogos de seu time vestido a caráter, com a camisa do clube e, mesmo estando credenciado pela AMCE (Associação Mineira de Cronistas Esportivos), fazia questão de ir à bilheteria e comprar um ingresso. Dizia que era para contribuir com o clube. E, às vezes, quando seu time fazia mais de dois gols, ele saía e comprava mais ingressos, para ter no bolso, ao final da partida, tantos ingressos quanto o número de gols que o time tinha marcado.

O jornalista Carlos Santiago, que também é torcedor do América, mas não era parente de Miguel, conta que ele era uma voz solitária na defesa do América. “Sempre me perguntavam se eu era parente dele. Só pelo fato de termos o mesmo sobrenome e o mesmo time do coração”, afirma Carlos Santiago, que chegou a conviver com Miguel em sua curta carreira de repórter policial e, a exemplo de Ivan, também guarda dele a generosidade em querer ajudar os colegas.

“Certa vez, durante a cobertura de um julgamento do ‘esquadrão da morte’  em Itabirito, ouvi ele dar o seguinte conselho a outro repórter: ‘repórter policial não pode fumar maconha, para não se igualar aos criminosos que entrevista’. Era uma pessoa que sempre queria ajudar os mais novos na carreira do jornalismo. Tenho certeza que deixou muitos discípulos na  imprensa mineira. Sem dúvida, nosso amigo Miguel foi um mestre”, afirmou Carlos Santiago.

A jornalista Maria Clara Prates também destacou a generosidade como um traço marcante de Miguel Santiago. “Foi pelas mãos dele que conheci os meandros do Judiciário mineiro. Ele não guardava segredo sobre seu vasto conhecimento. Destrinchava para uma foca cada linha de um processo, independentemente de seu volume. Mesmo que a notícia fosse um furo nacional, ele era capaz de compartilhar com os colegas. Um homem acima de vaidades. Esse homem me ensinou por linhas retas a dignidade, a generosidade, a conciliação, a humildade e a pouca importância que o status nos dá”, afirmou Maria Clara Prates em depoimento emocionado que publicou nas redes sociais sobre Miguel Santiago.

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