Morreu o jornalista, poeta e escritor Régis Gonçalves

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Muitos foram os amigos que compareceram à cerimônia de despedida do jornalista e escritor Régis Gonçalves, que faleceu de câncer neste domingo, 23, e foi velado hoje na capela Metropax. O sepultamento ocorreu no cemitério da Paz no final da tarde desta segunda. Régis tinha 82 anos e estava internado no Hospital Orizonti, em Belo Horizonte. Ele morreu de câncer no pâncreas. Régis Gonçalves deixa a esposa, a artista plástica Liliane Dardot, seis filhos e cinco netos.

Natural de Santa Bárbara, Régis se formou em sociologia, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e começou a se dedicar à comunicação, primeiro como chefe do setor de imprensa da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Nos anos 1960, foi ativo na oposição à ditadura militar, dedicando-se a publicações como o jornal operário “Piquete”. “Perdemos um eterno lutador pela democracia em nosso país”, afirmou a jornalista Vilma Fazito.  

Régis Gonçalves trabalhou em diversos veículos de imprensa de Belo Horizonte e também colaborou em publicações literárias. Nos anos de 1990, foi editor no jornal “O Tempo” quando de sua fundação. Na UFMG, trabalhou de abril de 2002 a janeiro de 2007 como coordenador de Jornalismo do Centro de Comunicação (Cedecom).

Régis Gonçalves publicou seis livros. O primeiro, “Queima de arquivo”, um livro de poesia, foi publicado nos anos 1980. Como poeta, também lançou “Opus circus” e “Trama tato texto”. Com sucesso, o poeta e jornalista também se dedicou a perfis biográficos. É autor de “Retratos erráticos: imagem, perfil e personagem na imprensa”; “Raul Belém Machado: o arquiteto da cena”, sobre a trajetória do cenógrafo mineiro; e “Lúcia Machado de Almeida – uma vida quase perfeita”, biografia da escritora Lúcia Machado de Almeida.

Intelectuais e amigos lamentaram sua morte. “O Régis foi um jornalista de ótimo texto, de ótima apuração, de ótimo caráter, de grande sentido ético e uma pessoa que pensava a cultura, enfim, o seu tempo. Era um intelectual capaz de fazer perguntas sofisticadas, articuladas, um homem de pensamento e de ideia. Vai fazer muita falta na imprensa mineira e brasileira”, afirmou, o jornalista e ex-presidente da Academia Mineira de Letras, Rogério de Faria Tavares. “Uma perda imensa”, afirmou Ângelo Oswaldo Araújo dos Santos, prefeito de Ouro Preto e ex-secretário de Cultura de Minas.

O jornalista José Eduardo Gonçalves, da Conceito Editorial, foi o editor da biografia da escritora Lúcia Machado de Almeida escrita por Régis Gonçalves. “Além de grande poeta, era jornalista militante das boas causas, um jornalista muito criterioso. Fez um trabalho maravilhoso de pesquisa, de muito rigor na apuração”, destacou José Eduardo Gonçalves.

No mundo da literatura quem lamentou a morte de Régis Gonçalves foram o poeta Tonico Mercador e o escritor Antônio Barreto. “Mais um companheiro de ideias, livros, palavras que se vai. Uma pena”, afirmou Tonico Mercador. “Que tristeza! Lá se vai um dos grandes companheiros de luta pela profissionalização do escritor no Brasil”, afirmou Antônio Barreto, que se recorda do empenho pessoal de Régis em ajudar a montar, nos anos de 1980, uma associação que congregasse os escritores profissionais mineiros. “Régis me ajudou até a carregar, nas costas e nos braços, os móveis usados que compramos pra montar a sala da associação, no Malleta”.

Paciência para ensinar

Outros preferiam destacar o Régis Gonçalves como dono de uma paciência enorme em contribuir para a formação daqueles que estavam se iniciando no jornalismo, como a presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), Alessandra Mello, que no final dos anos de 1990, logo depois de se formar, começou a trabalhar em “O Tempo”. Lá pôde usufruir da paciência com que segundo ela, Régis Gonçalves se dedicava ajudar os que estavam se iniciando na profissão. “Ele era uma pessoa muito paciente e muito tranquila”, afirmou Alessandra Mello.

A jornalista Isis Motta guarda de Régis Gonçalves essa mesma lembrança. “Ele foi de uma generosidade incrível. Me pegou pela mão, me ensinou muito, me deu a oportunidade de trabalhar, me orientou, me lapidou e me permitiu fazer contatos que abriram meus caminhos me dando também a oportunidade de ver a pessoa que ele era em família, além de jornalista e mentor. Dele guardo só boas lembranças”, afirmou Isis Mota.

O jornalista Zu Moreira também lamenta a morte de Régis Gonçalves pelo apoio recebido dele na profissão. “Regis sempre me incentivou e, como um irmão mais velho, apontou-me caminhos e celebrou minhas conquistas! Vai fazer muita falta ao jornalismo e à cultura de Minas Gerais. Descanse em paz, Mestre!”, afirmou Zu Moreira.

Quem também destaca o seu empenho em sempre procurar abrir caminho para outras pessoas é o jornalista, poeta e presidente da Casa de Jornalista, Carlos Barroso. Para ele, Régis Gonçalves sempre procurou incentivar outros escritores, seja por meio de publicações que fundou e das quais participou, como a “Poesia Livre”, com Guilherme Mansur, em Ouro Preto, seja por meio de  conversas sensíveis e produtivas. Carlos Barroso definiu Régis Gonçalves como o “poeta dos poetas”.

Amante da literatura, Régis Gonçalves fazia parte da Sociedade dos Amigos de Guimarães Rosa, a Sagro, que tem o professor Luiz Carlos de Assis Rocha como um de seus fundadores. Sobre Régis Gonçalves assim Luiz Carlos se manifestou: “Duas palavrinhas sobre Regis Gonçalves. A primeira refere-se ao homem atencioso, amigo e super-educado, pronto para discutir qualquer assunto, principalmente sobre cultura, jornalismo e literatura. Tive o prazer de frequentar com ele algumas sessões sobre a leitura de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Que presença! Que participação intensa! Que interpretações inteligentes! Tive também o prazer de ler alguns de seus livros: Retratos Erráticos, Raul Belém Machado e, principalmente, Lúcia Machado de Almeida – uma Vida Quase Perfeita. Só me resta dizer, Regis: você nos deixou um exemplo de Vida Perfeita”, destacou Luiz Carlos Rocha.

Foto: Élcio Paraiso

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