A presidenta da FENAJ, Samira de Castro, apresentou os números do Relatório da FENAJ em evento realizado no Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio. Fotos: Nando Neves
A presidenta da FENAJ, Samira de Castro, apresentou os números do Relatório da FENAJ em evento realizado no Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio. Fotos: Nando Neves

Brasil teve uma agressão a jornalista por dia em 2022

Relatório aponta que o número de casos registrados chegou a 376

“Durante o ciclo de Bolsonaro na Presidência, houve uma institucionalização da violência contra jornalistas”. A frase resume uma das conclusões do “Relatório da Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2022“, divulgado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) no dia 25 de janeiro. Nos quase quatro anos do seu mandato, Bolsonaro foi o principal agressor e incentivador de apoiadores, estimulados a assumir o papel de agressores.

De 2019 a 2022, o ex-presidente realizou 570 ataques a veículos de comunicação e aos jornalistas, numa média 142,5 agressões por ano; um ataque a cada dois dias e meio. Ao longo do mesmo período, houve um crescimento das agressões a jornalistas cometidas por aliados e apoiadores do governo, que priorizou a liberalização do comércio de armas e deu espaço para a ocupação ilegal da Amazônia.

O governo do, agora, ex-presidente Jair Bolsonaro deixa a sua marca de desrespeito e de agressividade associada à prática governamental sistemática de descredibilização da imprensa e ataques aos profissionais envolvidos com a produção de informações úteis para a sociedade.Uma das importantes particularidades registradas em 2022 é justamente o fato de que os apoiadores de Bolsonaro chegaram ao segundo lugar na lista dos agressores. Eles foram responsáveis por 80 episódios de violência, 300% a mais que o número registrado em 2021.

Balanço da agressividade

Em 2022, foram registrados 376 casos de agressões a jornalistas e veículos de comunicação no Brasil, o que equivale a praticamente um caso por dia. De acordo com o levantamento, os números, apesar de elevados, são menores que os de 2021 ano recorde desde o início da série histórica feita pela federação, quando foram registrados 430 casos.

Apesar da queda de 12,53% em relação ao ano anterior, graças a iniciativas de prevenção tomadas pela categoria e pelas empresas, o relatório constata que as agressões diretas a jornalistas tiveram crescimento em todas as regiões do país.

O documento aponta que a descredibilização da imprensa voltou a ser a violência mais frequente, em 2022, apesar de ter diminuído 33,59% em comparação com o ano anterior. Foram 87 casos de ataques genéricos e generalizados, que buscaram desqualificar a informação jornalística. Em 2021, foram 131 episódios. Em segundo lugar aparecem as ameaças, hostilizações e intimidações com 77 casos (44 a mais que os 33 registrados em 2021). Houve um crescimento de 133,33% nas ocorrências.

Já as agressões físicas aumentaram 88,46%, passando de 26 para 49 no ano passado. A entidade destacou o brutal assassinato do jornalista britânico Dom Phillips, numa emboscada, junto com o indigenista Bruno Pereira, em Atalaia do Norte (AM).

Os impedimentos ao exercício profissional cresceram 200%: foram 21 casos em 2022, já no ano anterior foram 7. Também tiveram crescimento significativo (125%) os ataques cibernéticos a veículos de comunicação, passando de quatro para nove episódios.

A censura, que já foi a categoria de violência com maior número de casos em 2021, caiu para a terceira posição, em 2022. “A queda foi de 54,96% e muito provavelmente se deu pela diminuição no número de denúncias e não dos episódios propriamente ditos, a grande maioria na Empresa Brasil de Comunicação (EBC)”, diz a Fenaj.

“O ex-presidente Jair Bolsonaro, assim como nos três anos anteriores, foi o principal agressor. Sozinho, ele foi responsável por 104 casos (27,66% do total), sendo 80 episódios de descredibilização da imprensa e 24 agressões diretas a jornalistas (10 agressões verbais e 14 hostilizações)”, afirma a entidade.

De acordo com a presidenta da Fenaj, Samira de Castro, esse resultado pode ser explicado pela tensão política no país. “A sociedade passa, nesse momento de tensionamento político, a questionar as instituições estabelecidas. A imprensa é uma dessas instituições. Então, a gente precisa de um discurso institucional que valorize o jornalismo profissional a partir de agora, para poder a própria sociedade entender, que quando ela agride um jornalista, ela está retirando dela mesma o direito de ser informada”, ressalta.

Samira aponta meios para reverter a situação. “É preciso campanhas de sensibilização, a instalação do próprio Observatório Nacional da Violência contra o Jornalista, um protocolo nacional de segurança com as forças policiais porque também são forças agressoras da imprensa. E a partir de tudo isso, a sociedade voltar a compreender que o jornalismo é, sim, uma forma de conhecimento imediato da realidade e que estabelece um direito humano, que é você ser informado e poder saber da sua realidade imediata a partir do trabalho das repórteres, dos repórteres, enfim, de todos os jornalistas”, conclui.

Confira o relatório


Com informações de Agência Brasil

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