Faleceu hoje, aos 63 anos, um dos jornalistas mais brilhantes e queridos da imprensa mineira: João Paulo Cunha. Ele vai ser velado amanhã, no Cemitério Parque da Colina, em horário ainda não definido.
João Paulo era formado em psicologia, filosofia e comunicação social pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi professor da PUC Minas e do Centro Universitário Newton Paiva nas áreas de psicologia, ética e sociologia.
João Paulo era colunista do jornal “Brasil de Fato MG”. Foi também diretor da Rádio Inconfidência e da Rede Minas, editor de Cultura por 18 anos do jornal “Estado de Minas”, presidente do Instituto Cultural BDMG e diretor da Casa de Jornalista. É autor dos livros “Penso, logo duvido”, “Em busca do tempo presente” e “Elomar, Cantador do Rio Gavião”.
Deixa a esposa, Cibele; a filha, Joana Tavares, também jornalista, e a netinha Antônia, além de uma saudade imensa em seus amigos e jornalistas que atuaram ao lado dele.
Era extremamente culto, gentil, leitor voraz, corajoso e muito tímido. Andava sempre de camiseta branca e calça jeans. Para ele, o jornalismo era um instrumento de cidadania.
Pediu demissão do “Estado de Minas”, em 2014, por não concordar com censura imposta a um texto seu, contrário a linha política adotada pelo jornal, à época, francamente favorável ao então candidato a Presidência da República, Aécio Neves. Deixou a redação sob aplausos. No dia seguinte, em homenagem a ele, todos os repórteres foram trabalhar de camiseta branca.
A última homenagem
No último dia 25 de junho, João Paulo foi homenageado na feira de livros realizada pela livraria Asa de Papel, em Belo Horizonte. No evento, mesmo já abatido pela doença, ele fez um breve fala de agradecimento. João Paulo falou sobre o papel que teve o suplemento “Pensar” teve na interlocução entre o jornalismo e o mundo acadêmico; falou sobre o ataque ao conhecimento e ao saber pelas forças de direita; e sobre a importância da cultura na recuperação desses espaços.
Por fim, falou sobre a importância de, mesmo em um cenário triste, como o atual, não perder a alegria e, ao mesmo tempo, alimentar a indignação.
Nas redes sociais, amigos destacaram o legado de João Paulo Cunha:
Um homem fora da curva
“João sempre foi um homem fora da curva. Quando o conheci, em 1997, na Editoria de Gerais, na Rua Goiás, ele foi, por um curto período de tempo, meu subeditor. De fala mansa, sempre nos acolheu em nossos primeiros passos no jornalismo diário com explicações simples, mas sábias. Ao longo dos anos e da convivência, a amizade se fortaleceu. Já não convivíamos na mesma editoria, mas a admiração seguia em paralelo. Tímido, afável e de uma inteligência e intelectualidade brutas, cujas nuances surgiam nas conversas mais aprofundadas sobre filosofia, psicologia e política, João Paulo amava discutir os rumos das novelas, da mesma forma que falava sobre literatura. Ah, João, que riqueza a minha ter convivido contigo, e poder guardar nas fotos os registros desse breve e verdadeiro encontro que tivemos por aqui. Lamento que não tenha dado tempo de estarmos, mais uma vez, entre os nossos companheiros de uma vida. Siga na luz.” (Cristiana Andrade, jornalista)
Inteligência e integridade
“Convivi com João Paulo Cunha quando fui presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais e depois quando ele foi diretor da Casa do Jornalista quando eu a presidia. O mais marcante em João era sua inteligência e integridade. Sua gentileza, sobriedade. Ele era um líder, mesmo sem saber, ou querer, pois cada jornalista, que se preze, se inspirava nele como um ícone da nossa profissão. Cada texto do João era uma contribuição na construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Eram a expressão de uma escrita culta, comprometida com os direitos humanos e a transformação social. Ele mostrou que o jornalismo deve ser um aliado na luta por mundo melhor.” (Kerison Lopes, jornalista e ex-presidente do SJPMG)
Compromisso com os mais pobres
“De sólida formação, João Paulo além de jornalista era formado em psicologia, pedagogia e filosofia, e usou todo seu conhecimento na luta por justiça, por direitos e em defesa de um Brasil comprometido com os mais pobres. Seus textos, artigos e livros denunciavam com muita competência o arbítrio, o autoritarismo dos governos que sucederam ao golpe de 2016. Apoiador do MST, publicou diversos artigos em defesa da luta pela terra e da reforma agrária popular. João Paulo partiu deixando um legado intelectual e moral de uma vida inteira de coerência política e compromisso com a luta popular. João seguirá vivo em nossas memórias e lutas A ele dedicaremos a derrota do fascismo nessas eleições, e as vitórias que com certeza estão por vir.” (MST-MG)
Intelectual de primeira linha
“O jornalismo e a cultura perdem um intelectual de primeira linha e um militante das causas populares. Siga em paz no caminho rumo ao o finito.” (Ângela Carrato, jornalista)
Jornalista exemplar
“Tudo o que dissermos sobre a intelectualidade e generosidade do João Paulo será pouco. Jornalista exemplar, ele já está fazendo muita falta! A categoria está de luto, pois perder uma pessoa admirável como o João abre um vazio difícil de ser preenchido. Meus sentimentos á família enlutada, em especial á sua filha Joana, de quem gosto muito.” (Dinorah do Carmo, jornalista e ex-presidente do SJPMG)
Referência para o jornalismo cidadão
“É uma pessoa que é uma referência para a gente, pelo jornalismo mais cidadão, mais próximo das pessoas.” (Elias Santos, jornalista)