Nova ameaça mira funcionários da Repórter Brasil, alvo de ataques na internet

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Ataques ocorrem desde 6 de janeiro; site da organização foi tirado do ar; invasores querem exclusão de notícias; autoridades policiais investigam o caso

Sabrina Freire, Poder 360

14.jan.2021 (quinta-feira) – 12h13

Alvo de ataques cibernéticos desde a última semana, a organização não governamental Repórter Brasil foi ameaçada novamente nessa 4ª feira (13.jan.2021) por criminosos que pedem a exclusão de reportagens do veículo. Caso não sejam atendidos, ameaçaram “prejudicar funcionários” da organização.

Fundada em 2001 por jornalistas, cientistas sociais e educadores, a Repórter Brasil produz reportagens que visam a fomentar o debate sobre a violação aos direitos humanos, crimes ambientais e combate ao trabalho escravo no Brasil. Desde 6 de janeiro, a organização vem recebendo mensagens com chantagens e sofrendo ataques cibernéticos.

Em nova mensagem enviada nessa 4ª feira (13.jan), os autores das ameaças deram prazo de 48 horas para que as reportagens produzidas de 2003 a 2005 pela Repórter Brasil sejam apagadas.

“Atenção. se nao formos atendidos em 48 horas, além do seu site nao ficar no ar, todos os funcionarios que trabalham na sua empresa serao prejudicados. ‘Nobody can be protected from the pass’ [sic]“, diz o e-mail.

Segundo o presidente da Repórter Brasil, o jornalista Leonardo Sakamoto, o e-mail foi enviado a partir de um provedor na Alemanha conhecido por garantir privacidade e anonimato aos usuários. A equipe de segurança digital da organização tem tentado neutralizar a ação dos hackers, mas eles adotam mais de uma estratégia.

“O início dos ataques foi no dia 6. Desde então, eles acontecem todos os dias, tendo conseguido deixar o site fora do ar por períodos que podem variar de duas a oito horas por dia. Eles são profissionais, adaptam-se às nossas neutralizações”, disse Sakamoto.

A organização informou que “não atendeu, nem atenderá nenhuma tentativa de constrangimento ilegal, ainda mais uma que represente autocensura”.

A Repórter Brasil informou que registrou boletins de ocorrência na Polícia Civil de São Paulo e comunicou o Ministério Público Federal, entre outras instituições competentes, para investigar o caso. Nesta 5ª feira (14.jan.2021), o secretário-executivo da organização, Marcel Gomes, vai depor ao delegado que está com o caso.

“A Repórter Brasil é constantemente assediada por descontentes que exigem que reportagens sejam retiradas do ar. Não é possível afirmar se um deles está por trás dos ataques ou se o objetivo é manter o portal inacessível, o que deverá ser objeto de detida apuração pelas autoridades responsáveis”, disse.

Na manhã da última 5ª feira (7.jan.2021), a sede da organização também passou por uma tentativa de invasão. No entanto, ainda não possível confirmar se há relação com a invasão hacker, segundo informou Sakamoto.

ABRAJI CONDENA ATAQUES

Em nota, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) condenou os ataques e as tentativas de constrangimento às quais a Repórter Brasil vem sendo alvo. A associação cobrou autoridades para que apurem o caso e identifiquem os criminosos.

“A Abraji cobra que as autoridades apurem os ataques com rapidez e identifiquem os criminosos. Os episódios não são apenas uma ameaça concreta à imprensa livre. Representam um atentado à sociedade, que tem o direito de se informar por meio de veículos independentes e plurais, como a Repórter Brasil que, em 20 anos, se consolidou como uma das iniciativas mais importantes para o jornalismo investigativo”, diz a nota.

“A Abraji não aceita ultimatos e constrangimentos ilegais impostos a jornalistas e veículos. Atos criminosos como esses afrontam o direito fundamental da liberdade de expressão, garantido pelo art. 5º, inciso IX da Constituição Federal.”

ALERTA INTERNACIONAL

O CPJ (Comitê de Proteção aos Jornalistas) soltou um alerta internacional sobre o caso. O comitê cobrou autoridades brasileiras sobre a investigação “de forma rápida e completa” das ameaças à Repórter Brasil.

“As autoridades brasileiras devem investigar os ataques cibernéticos e ameaças à Repórter Brasil, determinar quem está por trás deles e levar os responsáveis ​​à justiça”, disse Natalie Southwick, coordenadora do programa do CPJ para a América do Sul e Central, em Nova York.

“Jornalistas investigativos independentes desempenham um papel vital na documentação de violações de direitos humanos no Brasil e muitas vezes estão sujeitos a assédio ou violência. As autoridades brasileiras devem intervir e garantir que eles possam relatar com segurança.”

Em nota enviada ao CPJ, Marco Antônio Dario, chefe da 23ª Unidade de Polícia que investiga os ciberataques, disse que as autoridades ainda não identificaram nenhum suspeito.

 

(Publicado pelo Poder 360.)

[14/1/21]

 

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