Pandemia impacta mulheres jornalistas que trabalham em ‘home office’, diz pesquisa

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A pandemia do novo coronavírus provocou impacto especial nas mulheres jornalistas que passaram a trabalhar em home office e, em consequência da divisão social do trabalho, acumularam também funções domésticas não remuneradas. A observação é da pesquisa “Como trabalham os comunicadores em tempos de pandemia da covid-19?”, realizada pelo Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

Coordenada pela professora Rosali Figaro, a pesquisa recebeu apoio de seis sindicatos de jornalistas, entre eles o SJPMG, e da Fenaj. Ela foi feita entre 5 e 30 de abril de 2020 e ouviu 557 jornalistas brasileiros de 24 estados, Distrito Federal e Portugal. Minas Gerais foi o segundo estado com maior número de participantes, 58.

Nas suas considerações, a pesquisa analisa as relações entre o trabalho em home office e gênero. Ampla maioria entre jornalistas, as mulheres foram maioria também entre os respondentes da pesquisa.

“Trabalha-se muito em casa e essa atividade, ao longo dos séculos, tem sido relegada como função natural das mulheres”, afirma a pesquisa. “Além do trabalho doméstico e do cuidado com os filhos, as mulheres também desempenharam atividades domésticas tidas na agricultura, na costura, no cuidado com os animais, na produção de alimentos e no tratamento dos mais velhos e doentes. Todas essas atividades foram invisibilizadas ao longo da História. São atividades fundamentais para a vida da família, da prole, do proletariado, daqueles que vivem do trabalho.”

Ao contrário daqueles que trabalham sob contrato, seja na terra, seja na indústria, no comércio ou em serviços, e que são pagos com salário, para suprir as necessidades da casa e da família, o trabalho doméstico não tem remuneração. “O trabalho não pago da mulher sempre foi menosprezado e invisibilizado pela sociedade e, sobretudo, pelo ‘ente mercado’”, ressalta a pesquisa.

Na sociedade contemporânea, as conquistas do feminismo trouxeram a mulher para o mundo do trabalho, sem que ela fosse dispensada, porém, dos afazeres domésticos.

“Essa cidadã no mundo do trabalho sofre, além da dupla ou tripla jornada (com os afazeres do lar), o não reconhecimento como profissional, porque tem salários que podem ser até 30% menores do que dos homens (IBGE, 2019), sofre assédio moral e sexual, e a constante necessidade de provar ao coletivo que tem condições profissionais de desempenhar o trabalho”, afirma a pesquisa, acrescentando que, nesse esforço, ela é sempre mais qualificada do que os homens para exercer a mesma função, embora ganhe menos.

“Com o trabalho em home office, parece que para as mulheres a situação retrocede no tempo, visto que as tarefas do lar, os filhos e outros elementos da gestão doméstica acumulam-se com o trabalho remoto”, afirma a pesquisa. “Outros indícios, tais como a violência doméstica, tornam ainda mais traumática essa experiência. O sonho do trabalho em home office mais confortável, pelo não deslocamento e com maior autonomia na gestão do tempo, parece ser ainda um sonho pouco próximo de ser alcançado.”

A pesquisa afirma ainda que “a gestão da vida doméstica, o controle da jornada de trabalho e a suplementação do salário para o uso de equipamentos e de infraestrutura própria são temas urgentes a serem discutidos e negociados”.

Clique AQUI para ler a íntegra do relatório da pesquisa em PDF.

[5/8/20]

 

 

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