Com muita tristeza comunicamos a a morte do jornalista Alfredo Durães, 56 anos, que foi durante muitos anos repórter do jornal Estado de Minas. Alfredo teve um aneurisma e não resistiu. Leia abaixo o texto que o jornalista Arnaldo Viana escreveu sobre Durães.
Alfredo Durães não era colecionador de sonhos. Alimentava apenas um. Casinha simples, em montanha aprazível, para viver, livre, a paz ao lado da doce companheira. Cerveja gelada e algo para fazer fumaça.
Lembro-me de quando Renato Weil e Glória Tupinambás decidiram motorromear mundo afora. Alugamos o sítio do casal, na comunidade de Campinho, em Jaboticatubas. Meio a meio. Sala, cozinha, dois quartos e fogão a lenha. Decoração rústica. À beira de um riacho de águas frias. Em um dos cantos, o barril de cachaça. Sobre as chamas, o tacho cheio de feijão, pezinhos, orelhas, paio e as demais exigências da receita.
À grande mesa de madeira, degustávamos acepipes regados com o néctar destilado. Era o máximo para o Alfredo, sujeito viajado, que curtia cada aventura relatada no caderno específico do jornal como se fosse ele o turista. Depois, uma conversinha fora, o sol do fim de tarde. Mais uma ou outra rodada e cama.
Uma sossegada noite de sono e ele, não muito cedo, levantava clamando por Janinha, como se fosse ela o café da manhã. Chamava o companheiro de Kowaslki. Achava intrigante o personagem da série Viagem ao fundo do mar.
Entusiasmou-se com o lugar e comprou terreno do outro lado do córrego. Desiludiu-se quando Renato e Glória manifestaram desejo de vender a propriedade. Desistiu do lote sob frondosas mangueiras, mas não do sonho. “Olha velho, adquiri um terreno na Serra dos Alves, em Moema”.
Embora miseravelmente aposentados, a vida nos separou. Não sei o Alfredo ergueu seu único sonho no paraíso itabirano. Agora, ele se foi. Não tive chance de me despedir e perguntar: “E aí, irmão, basta um sonho para sermos felizes”?.
Adeus, Kowaslki.
Foto: Beto Magalhães
[29/05/2020]