Um dos assessores do presidente da EBC seria ‘funcionário fantasma’ com salário de R$14 mil

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José Carlos de Andrade, de acordo com fontes da Fórum, há meses não aparece para trabalhar mas, desde 2016, quando foi nomeado como assessor do presidente da EBC, Laerte Rimoli, recebe um salário de mais de R$14 mil. Ele é irmão de um ex-diretor da Globo.

Por Ivan Longo

Uma das primeiras ações do presidente Michel Temer após o golpe que destituiu a ex-presidenta Dilma Rousseff em 2016 foi trocar o comando da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e promover, de acordo com os funcionários, um verdadeiro desmonte. Tudo começou com a troca da presidência, que Temer deu nas mãos do jornalista Laerte Rimoli. Logo que assumiu, Rimoli extinguiu o Conselho Curador da empresa, o que permitia uma maior participação da sociedade civil, e o governo baixou a Medida Provisória (MP) 744, que muda totalmente a estrutura da EBC e dá ao Planalto plenos poderes para nomear ou exonerar funcionários.

Em seu primeiro ano de gestão, como forma de desmoralizar a gestão anterior, Rimoli contratou uma auditoria e “constatou” a existência de cerca de 300 “funcionários fantasmas” que recebiam salários de até R$14 mil.

Desde 2016, jornalistas dos veículos que compõem a EBC vêm denunciando a precarização do trabalho e as tentativas de censura da atual gestão que, diferentemente da anterior, influencia diretamente no controle de pauta das editorias.

Agora, eis que surge uma denúncia que Laerte Rimoli, o mesmo presidente que denunciou a existência de funcionários fantasmas da gestão anterior, possui um “assessor fantasma” só para si. De acordo com a denúncia – Fórum optou por não identificar a fonte para evitar retaliações -, José Carlos de Andrade, que é irmão do ex-diretor de jornalismo da Globo, Evandro Carlos de Andrade, foi nomeado em 2016 como assessor número 2 do presidente e há meses não aparece para trabalhar. Ele recebe um salário de R$14.294 mil.

Internamente, de acordo com a fonte ouvida pela Fórum, gestores informam que José Carlos Andrade fica em casa para poder cuidar de seu filho doente. Não há, no entanto, na empresa, a modalidade de “home office” e nenhum dos funcionários é autorizado a trabalhar de casa.

Muitos estão revoltados, inclusive, pelo fato de que, além de terem que baterem ponto diariamente enquanto um assessor não trabalha, ainda são obrigados a compensar os dez dias de greve que encamparam no ano passado como forma de protestar pela manutenção do ticket alimentação – parte do desmonte da atual gestão.

Como forma de denunciar o “funcionário fantasma” do presidente da empresa, funcionários criaram um evento no Facebook chamado “Onde está José Carlos?”.

“Queremos saber por onde anda José Carlos de Andrade, assessor II do presidente da EBC, Laerte Rimoli. Mesmo recebendo salário de R$14.294, JCA não foi visto na EBC nos últimos meses. Se você viu o colega, por favor, deixe-nos saber em que local, em que horário ele dá expediente e, o mais importante: o que faz o jornalista José Carlos na Assessoria?”, diz a descrição do evento. A página, no entanto, foi fechada pelos próprios criadores temendo retaliações.

“Estamos sob perseguição”, revelou uma fonte.

Outro lado

Procurada pela reportagem, a EBC informou, em nota, que o assessor em questão executa o trabalho de “análise de conteúdo dos programas produzidos pela EBC para a TV Brasil”, acompanha a programação e elabora um boletim diário, mas que foi aberta uma “exceção” para o assessor executasse seu trabalho de casa.

“O empregado José Carlos de Andrade executa o trabalho de análise de conteúdo dos programas produzidos pela EBC para a TV Brasil. Diariamente, ele acompanha a programação e elabora um boletim destinado aos diretores e gestores envolvidos na produção desses programas. Esse trabalho tem contribuído no debate interno sobre a qualidade dos produtos EBC. Portanto, o empregado está em pleno exercício de suas funções. Embora não haja a modalidade de teletrabalho instituído na EBC, houve uma autorização, em caráter temporário e excepcional, da administração, em virtude da necessidade de o empregado ter de acompanhar a condição médica de seu filho. No momento, aguarda-se uma evolução médica de seu dependente para que o empregado realize o seu trabalho nas instalações da Empresa”

(Publicado na revista Fórum.)

[2/4/18]

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