Ameaça fascista não é retórica, alerta blogueiro

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Dizer que o Brasil está diante da ameaça fascista não é exagero retórico, alertou o jornalista Marco Weissheimer, em debate durante o 5º Encontro Nacional de Blogueir@s e Ativistas Digitais, que acontece em Belo Horizonte neste fim de semana (20 a 22/5). Também participaram da mesa os jornalistas Laura Capriglione e Paulo Moreira Leite e os sindicalistas Beatriz Cerqueira, coordenadora geral do Sind-UTE e da CUT-MG, e Marcelino Rocha, presidente da CTB-MG.

Weissheimer citou como exemplo a escalada repressiva no Rio Grande do Sul, onde a Brigada Militar tornou-se ainda mais violenta contra os movimentos populares depois que o presidente interino Michel Temer assumiu. “Ações assim vêm se reproduzindo em todo o país, não devemos menosprezá-las”, disse Weissheimer, que mantém o blog rsurgente e trabalha no saite Sul 21, de Porto Alegre. “Nós, blogueiros, sofremos uma tentativa dupla de asfixia financeira e processos judiciais para nos calar”, acrescentou.

O jornalista considera que os brasileiros pagam, com o golpe, a conta das batalhas não travadas na redemocratização do país, nos anos 80, em especial a não democratização da comunicação e a anistia aos torturadores e assassinos da ditadura. “Temos agora no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República um general que criticou o relatório da Comissão da Verdade”, lembrou, referindo-se ao general de Exército Sérgio Westphalen Etchegoyen, que, segundo o noticiário, estaria controlando os passos da presidenta afastada Dilma Rousseff.

Weissheimer ressaltou ainda que os jornalistas precisam levantar o tapete que esconde a violência no país e rasgar a fantasia de que somos um povo cordial. “A história do Brasil é de muita violência, racismo e intolerância”, disse. Citando o argentino Adolfo Esquivel, prêmio Nobel da paz, o jornalista observou que o golpe que está em curso no Brasil faz parte de uma ofensiva conservadora em toda a América Latina, que tenta recolonizar as nações do continente.

Por fim, ele chamou atenção para o desafio de se buscar a unidade em defesa da democracia. “Isto já está acontecendo e até há pouco tempo era impossível”, disse.

Jornalismo de credibilidade

A jornalista Laura Capriglione, fundadora do Jornalistas Livres, disse que os blogueiros têm a tarefa de ganhar a classe média com os atributos do bom jornalismo. Ela considera que o centro político brasileiro foi para a direita, mas parte dele já se sente lograda pela desinformação da grande mídia.

“Há movimentos de resistência ao golpe todos os dias e a grande mídia faz um esforço gigantesco para escondê-los”, disse Laura. Em contrapartida, blogueiros e ativistas digitais fazem grande esforço para informar, reinventando a imprensa e contando para a população o que está acontecendo. “Os blogueiros e ativistas digitais são a voz da contranarrativa e mostram todos os dias que é um engodo o que o Jornal Nacional exibe.”

Para econquistar a população, os blogueiros têm que oferecer jornalismo de qualidade e ter muito cuidado com a credibilidade. “Não podemos errar, não podemos pisar nas cascas de banana que colocam para nós”, disse Laura, que é fundadora do Jornalistas Livres. “Nós temos compromisso com a verdade, temos de tomar todo cuidado para ter credibilidade.”

Para conquistar essa parcela da população, os blogueiros precisam, além de produzir jornalismo de qualidade, romper os guetos e atingir novos públicos. “Estratégia de rede é fundamental”, recomendou Laura. “Tem que viralizar, sair do gueto, contagiar quem ainda não está, e fazer isso com credibilidade, colaboração, profundidade.”

Ela disse que o Jornalistas Livres faz isso. “Tivemos que aprender o que é hackear, estudar estratégias de rede”, contou. “Descobrimos que entre o Facebook e o Youtube havia uma disputa comercial fortíssima e aprendemos como explorar as contradições entre esses dois gigantes.”

Dessa forma, acredita Laura, blogueiros podem se contrapor à grande mídia e enfrentar o golpe. “Em 64 não existia isso, não era possível fazer o que estamos fazendo”, observou. “Somos toda a cadeia produtiva do jornalismo atuando aqui e agora. Se eles têm a máquina de informação, nós temos o coletivo”, comparou. “Este é um movimento extremamente interessante, estamos fazendo a revolução da narrativa. Estamos criando o jornalismo colaborativo, horizontal, viral, novo no mundo inteiro. No futuro vão contar como fizemos isso.”

Foto: Marco Weissheimer e Laura Capriglione, no debate com blogueiros. (Crédito da foto: Eder Bronson / Barão de Itararé — 21/5/16.)

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